domingo, 4 de novembro de 2012


SUBURBIA CHEGOU!!!
                                                                                               por Tatiana Tiburcio

E chegou chegando trazendo em seu primeiro capítulo uma série de questões étnicas, sociais e culturais absolutamente importantes para todo cidadão, mas principalmente para o povo negro brasileiro no que diz respeito à possibilidade de mudança de alguns estereótipos limitadores e castradores.

Quando pensamos na característica barroca e lírica do trabalho de Luiz Fernando, imaginamos que no primeiro momento do capítulo, ainda nas minas de carvão, veríamos todo o lado fantástico da narrativa de uma menina que quer conhecer uma cidade que tem um morro todinho de pão de açúcar e tem uma égua Branca como a neve, de crina comprida e ondulada que se chama Rapunzel. No entanto, somos surpreendidos por uma visão completamente diferente. A situação é real! Possível! Sofrida. Todo o lirismo e o tom fantástico esta onde deveria estar dentro da proposta apresentada: na situação em si. Na narrativa. Na história. O que prepara todo o tom da série que tem como um de seus objetivos mostrar a beleza e a poesia existentes na realidade – mesmo que sofrida e privada de privilégios –  do negro brasileiro aqui representado pelo negro do subúrbio carioca.

 Já nesse primeiro momento a imagem nos apresenta o contraste a ser tratado. As cores que representam os universos a serem representados – o negro do carvão, do lugar e o branco da égua Rapunzel. Porém o mais interessante é a metáfora presente nesses elementos. Nessa égua, por exemplo, que só é capaz de ver o mundo e entende-lo e admirá-lo através da escuridão. Do negrume da noite. Sartre disse uma vez que “um branco não poderia falar convenientemente a seu respeito (da negritude), porquanto não possui experiência interior dela”. Ou seja, Suburbia nos convida a entender através da metáfora de Rapunzel, que somente se colocando no lugar do negro, somente enxergando através de seu olhar é que poderemos compreender a sua dor, a sua alegria e a sua forma de ver o mundo.

Um sobrevivente feliz, mas consciente (com diversos níveis de consciência) da sua condição. O negro como um transformador vitorioso da realidade que o cerca. Uma realidade dura e sofrida disfarçada pela falsa benesse do sujeito branco que, com o pretexto de ajudar uma criança abandonada, enfia-lhe um avental para que seja sua empregada na casa grande dos dias atuais em troca de comida e abrigo como podemos ver na relação entre Conceição ainda menina e a patroa Silvia –sinhá. E de seu namorado –sinhô que tenta fazer uso de sua peça já crescida quando o desejo lhe aflora.

Subúrbia esta apresentando outro olhar sobre muitas verdades pré estabelecidas. Cabe ao branco ser Rapunzel. E ao negro se identificar e acreditar que ele é. Que ele pode. Que ele consegue, pois como disse o mestre:

a liberdade jamais e dada pelo opressor ela tem que ser conquistada pelo oprimido.” 
                                                Martin Luther King

9 comentários:

Anônimo disse...

"Uma realidade dura e sofrida disfarçada pela falsa benesse do sujeito branco que, com o pretexto de ajudar uma criança abandonada, enfia-lhe um avental para que seja sua empregada na casa grande dos dias atuais em troca de comida e abrigo como podemos ver na relação entre Conceição ainda menina e a patroa Silvia –sinhá. E de seu namorado –sinhô que tenta fazer uso de sua peça já crescida quando o desejo lhe aflora". Me referia a essa parte do texto quando falei da casa grande contemporânea, mas certamente a série vai além dessa questão. Percebe-se que a abordagem é diferenciada, com a desconstrução dos esteriótipos que há muito acompanham a figura do negro na tv.

Tamara Lombardi

Anônimo disse...

muito bom família reunida pra assistir uma estreia muito esperada e foi muito bom Tatiana Tiburcio e Cridemar Aquino superaram as expectativas q já eram muito altas para todo o elenco numa estreia... série que retrata com muita seriedade e fidelidade a realidade do subúrbio aí representando todos os cantos do nosso gigante Brasil... Sucesso e felicidades a todos... amei!

Ivan Jr Karu

Anônimo disse...

Essa série é um marco da televisão brasileira. Quem já assistiu o documentário "A negação do Brasil" do Joel Zitto sabe do que estou falando. Quem não assistiu assista. O negro sempre foi retratado sem destaque, como pano de fundo e nas raras vezes em que tem destaque é excessivamente estereotipado. Em Subúrbia não vemos isso. Vemos uma família com história, memória, tradição. Emocionante demais ver a primeira cena em que o quintal da família é apresentado com alegria, com união, com amor. Como são de verdade essas famílias. Vida longa a Subúrbia. Parabéns ao afinado elenco e ao diretor Luís Fernando Carvalho por sua contribuição inegável a uma causa que deveria ser de todos: o combate ao racismo e a inserção definita e igualitária do negro em nossa sociedade.

Gabriel Sant'Anna

Negro Olhar disse...

"A narrativa de Suburbia possibilita enxergar o mundo com um olhar mais aguçado, nos permitindo rever conceitos, padrões e situações não mais cabíveis à sociedade contemporânea".

Ana Kariny Gurgel

Anônimo disse...

"A narrativa de Suburbia possibilita enxergar o mundo com um olhar mais aguçado, nos permitindo rever conceitos, padrões e situações não mais cabíveis à sociedade contemporânea".

Ana Kariny Gurgel

Anônimo disse...

Uma das questões que mais me chamaram atenção nesse primeiro capítulo foi justamente a da casa grande contemporanizada. Apesar de ser demasiadamente real, é duro constatar que a opressão ainda é colonial, com a mesma configuração e os mesmos algozes. Espero que a pureza de Conceição vença todo esse mal, estou ansiosa pelos próximos capítulos.

Tamara Lombardi

Anônimo disse...

Tati querida , achei muito legal , li o comentario sobre a estreia , so não concordo que a patroa tenha levado a Conceição com o proposito de adoção e sim por crise de conciencia ,dando serviço ela estaria ajudando , tanto que a Conceição gostava dela e tenta poupa-la ao esconder o lance do namorado . è assim que vejo.

Rosa Marya Colin

Anônimo disse...

Ver "Suburbia" me faz lembrar as palavras de Darcy Ribeiro no seu "O povo brasileiro": " Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidade. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra". Só que esse amanhã já é ! Já tá sendo há muito tempo...Tudo existe retratado no seriado, mas bom mesmo é ver a humanidade que brilha na alma do povo brasileiro transcendendo às mais sofridas situações.E a fotografia ,o som,o colorido ...Que momento lindo.Questões sérias e profundas reveladas num caleidoscópio lírico, sábio e fiel. Vida longa a "Suburbia'!!!Kenya Costta

Ivan Karu disse...

Realidade ou ficção, no caso de suburbia muito mais realidade que se pode imaginar... fquei muito surpreso positivamente, este seriado reproduz nossa realidade, uma ficção real do cotidiano do subúrbio...