quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


“A vingança será a dor mais feliz!


                                                                                    por Tatiana Tiburcio

Parado diante da porta do paraíso, sujo, transtornado, sendo puxado para trás e para baixo por uma força que turva seus sentidos e sua alma. Uma voz boa o chama de dentro do paraíso. Ele atende e entra. Mas sua presença carregada maculou este lugar com seu ato anteriormente insano. Os protetores tentam castigá-lo, mas o amor o sentencia a uma segunda chance, porém sozinho. Sai! E correndo, ele se entrega na doce ilusão do lado perverso de todo ser humano confundido pelo aparente desejo de justiça. Das águas correntes que dão a vida ele se lava e renasce, porém para o lado mais sombrio do ser humano. Claiton perdeu a batalha!

Dessa forma se resume o quinto capítulo para mim. O lado bom perdeu o round para o lado sombrio. Fraco esse ser humano que se acha tão poderoso diante da existência! Esse existir que antecede a própria existência do individuo e que independente desta continuará seguindo! O trem da vida não para! Segue pelos trilhos do tempo, constante, impassível e a única coisa que podemos fazer a respeito é decidir em que momento queremos ou devemos descer e qual vagão queremos ou devemos pegar. Mas o que passou, passou. E não volta atrás. Mas passa de novo por um movimento espiralar de crescimento em um ponto parecido, mais a frente, nos dando a oportunidade de, não corrigir o passado, mas fazer melhor para o próximo passo. O trem nunca sai dos trilhos, nós é que às vezes entramos no vagão inadequado. 


E é no limite que separa o dia da noite que Claiton escolhe o vagão errado seguindo em um caminho que o leva para um “outro lado” dele mesmo. Que o leva ao encontro de tudo aquilo que ele rejeitou até agora, mas que sempre o atraiu. Rompeu com a única proteção capaz de mantê-lo a salvo deste lado sombrio: o amor de Conceição. Um amor que vai além da relação homem e mulher. Um amor que se multiplica porque tem raízes que se fortalecem no mais profundo do nosso passado, da nossa história, e cresce majestoso para o infinito pelas folhas da copa dessa arvore genealógica refletida no espelho da vida que passa de mão em mão mostrando as gerações e seus frutos desde Mãe Bia e Pai Aloisyo até Conceição, o mais novo membro da família.


Mas Claiton parou diante da porta do paraíso. Como no sonho de Dante, ele desceu na estação inferno. E mergulha doce e sereno nos braços da perdição. No entanto uma perdição aparentemente necessária, porque às vezes precisamos ir ao mais fundo possível. Quanto mais perto o corpo do chão, maior será o impulso pra sair dele. Está exposto entregue nas mãos de um destino traçado pelo ódio, pela vingança, pela dor, pela exclusão, pela falta de base, de raiz, de história, tradição. Um conjunto de referencias que lhe confeririam força o suficiente para se manter reto, crente e inteiro para seguir pelos trilhos da vida escolhendo os vagões mais acertados desta locomotiva porque assim ele não seria um, mas um a partir do todo. De todos. Conceição tenta chamá-lo a luz da razão, aos gritos. Mas este já esta entregue. Esta renascendo na água da bica, da chuva; esta entregue sem escolha, sem refúgio num mergulho no mais profundo da sua escuridão. Aceita os subterfúgios que lhe cabem sem precisar mentir . Ultrapassa uma barreira que o amor de Conceição não pode mais alcançá-lo e protegê-lo. Claiton renasceu para o seu inferno pessoal e agora só cabe a ele caminhar por esta perdição até encontrar novamente o equilíbrio.



“Se o sonho finge muros pelas planícies do tempo, 

faz-lhe o tempo acreditar que nasce naquele instante”.


Federico Garcia Lorca

5 comentários:

Anônimo disse...

E quem nunca entrou num vagão errado? E quem entrou sabendo que é errado, mas se sente mais poderoso nele? A vida nos testa o tempo todo, o ego nos direciona para o que é conveniente para ele, mas não para o que é melhor para a alma. O rancor nos transforma em bomba-relógio. Afinal, como saber dosar e frear um ímpeto? Vivendo, apanhando e vendo!

Ana Karyne Gurgel

Karu disse...

A história de uma menina pobre, preta que ama dançar e que sonha em ir fazer sua vida no Rio de Janeiro.
Chegando na periferia ela se mistura, cresce ganha corpo e com sua sensualidade chama atenção e a inveja das pessoas ao redor inclusive, de uma negra dançarina de funk e namorada dos BANDIDOS da área. (Definição dada no próprio site: http://redeglobo.globo.com/novidades/series/noticia/2012/10/suburbia-conheca-personagem-jessica-vivida-por-ana-perola.html)

AQUI neste link, podemos encontrar o perfil de cada personagem da série, e perceber qual a concepção da Globo sobre o negro, ou seja, como ela quer TRANSMITIR A IMAGEM DO NEGRO ÀS PESSOAS

http://redeglobo.globo.com/series/noticia/2012/10/suburbia.html



Cultura Negra é Zumbi, Panteras negras, Quilombo, Protesto, a resistência ao Apartheid, Luta, Revolta !!!

Cultura negra não é a menina pobre sendo vista como objeto sexual, cultura negra é a garota pobre que sonha uma universidade, crescer na vida e o sistema com todas as ferramentas a impede disso, ISSO É CULTURA NEGRA é RESISTÊNCIA não é ALIENAÇÃO.

Fonte: http://wellington-ocontestador.blogspot.com.br/2012/10/suburbia-paulo-lins-e-meu-ponto.html

Karu disse...

querid@s o texto que enviei tirei do face...

Karu disse...

AFRONTA compartilhou a foto de Diário Preto.

SUBURBIANDO...

Menina da pele escura cuja beleza gera ofensa
Menina bonita luta, pra ser aceita, em sua defesa

Menina liga a tv, logo se vê e se espanta
Desarranjo, desacerto, desassossego
E a lagrima ao chão se lança.

Sera que é só isso que olham,
quando me olham passando na rua?

-Veja só como a preta é linda, mas a vida deve ser uma desgraça pura.

Nosso lugar de destaque
para eles já esta bem definido.
A gostosa de shortinho curto.
A ignorante e indecente mulata.
Isca de bandido.

Quero ver a minha cara sorrindo
Quero ver o que ainda não vejo
Eu sucedida e bem casada
Com chofer, chapéu e lenço

Mas não...

Toda historia que vivemos tem que ser um drama
Temos que apanhar, sofrer, ser humilhada e maltratada na cama.
Temos que ser vitimas, a cara da pobreza
Temos que ser vulgares e servidas como sobremesa

Tem que ter preto chorando, gritando,
tem que ter desgraça.
Eles parecem que gostam de ver o terror em nossas caras.

Pra mim, isso não é novidade
Pra eles a gente só existe na favela
Pra eles não tem doutora preta de familia firme
Somos apenas a cara da miseria

Pois bem!
Quer mostrar minha cara
Então vê se mostra direito
Pois pra você parece que só existe preto nos guetos.

Minha mãe é professora formada
Meu pai, quimico bem colocado na profissão
Minha irmã não é prostituta
Meu irmão não é nenhum tipo de ladrão...

Eu moro num bairro bom
Eu amo e sou bem tratada
Eu tenho duas faculdades
E não sou uma subalterna ferrada.

Nosso povo tem muita historia triste
pra contar e pra vender
Tem muito sofrimento ai na praça
Pra chorar e comover
A exclusão nos deu de tudo
Carencia, tristeza e dor
Portanto viver afirmando isso não nada transformador.

Quero ver a pretinha crescendo
Se vendo linda, inteligente e bela
Quero que ela entenda que é possível sim
ser a madame da novela

Quero que ela saiba que existem outras tantas,
que compram, que gastam,
com vida igual a da branca loira e nobre

E quero que a televisão mostre
outro lugar que não seja apenas o de pobre.

Quero ver uma preta que não se rebaixa
Que seja ousada e ativa

Quero que um dia essa tv entenda o que é ação afirmativa.



Jairo Pereira.
Diário Preto

Unknown disse...

Bom dia! Meu nome é Girlene Verly, sou pesquisadora da UFMG, formada em Letras, iniciando o doutorado nessa instituição e gostaria de ter acesso aos textos dramatúrgicos selecionados por vocês nos últimos editais referentes ao Ciclo de leitura Dramatizada com autores e artistas negros. Isso é possível? O que preciso fazer?
Muito obrigada!