“Tú é mermo é quem se mata”
por Tatiana Tibucio
Dar-te-ei
todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Trecho de “Operário em construção” de Vinicius de Moraes
Claiton abandonou o que o
fazia dizer não. É muito difícil olhar para a luz quando o véu da perdição já
cobriu nossos olhos. Vivemos no eterno limiar entre o que é certo e o que é
errado. O que é certo e o que é errado? A vida se apresenta como uma eterna
encruzilhada cheia de possibilidades sedutoras prontas para saciar nosso ego,
nossa vaidade, nossa consciência, nossa soberba, nosso orgulho, nossa caridade,
nosso amor, nosso ódio, nossa vingança, nosso perdão. Que caminho seguir? O caminho
que sacia os nossos instintos ou o que sacia a nossa razão? Nem um nem outro.
Achar o equilíbrio entre os dois pólos é que se torna o desafio de viver.
Abandonar uma parte da vida porque esta não mais te completa é fácil. Essa é a
escolha dos fracos e/ou dos covardes. Reinventar o desejo, o amor, o prazer, a
felicidade, dentro da mesma realidade é que é o verdadeiro desafio de viver.
Exu veio pra desestabilizar
a harmonia possibilitando assim o crescimento e a mudança. A vida sempre nos
apresenta e nos impõe o momento de sermos fênix. De ressurgirmos das cinzas
para o novo e melhor e nem sempre esse novo é outro diferente do que se tem
agora. Ressurgindo do fogo do sol que brilha atrás de si; vestido e armado com
as armas da vingança, Claiton se entrega a sua suposta missão, agora realizada,
de vingar o irmão saciando seus desejos mais egoístas em detrimento a todo o
bem que se lhe apresentava de bom grado. Porém, nascem do fogo também com ele
todas as conseqüências de sua escolha. Ah que insaciável e contraditório é o
ser humano que esta sempre em busca de mais mesmo que não seja necessário! No
entanto, é preciso que às vezes mergulhemos no mais obscuro de nós mesmos para que
possamos ver o quão maravilhoso é o brilho do caminho bom. Precisamos do
momento de chafurdar na lama, em meio aos porcos, ao lixo, a podridão para
enxergamos o bom, o belo que a vida nos apresenta e que muitas vezes estamos
impossibilitados de ver, cegos pelos nossos desejos egoístas oriundos do medo,
da insegurança, da inveja, da covardia, de tudo aquilo que, junto com todas as
qualidades, nos faz humanos.
Podemos dizer que a palavra
que define este capítulo seria RENASCIMENTO. É o que começa a acontecer em todo
o universo de SUBURBIA. Margarida também esta acordando. Mergulhada que já
estava no seu inferno particular, ela começa a acordar impulsionada pelo
sentimento que mesmo pequeno frágil e delicado, talvez seja o mais grandioso e
poderoso que podemos carregar dentro de nós: o amor. Este estranho e complexo
sentimento manifesto de forma tão plural. Neste caso o amor de mãe. A urgência
deste sentimento começa a puxá-la para fora do lado sombrio em que se encontra.
Margarida esta despertando! Como a música de Pai Aloysio que renasce através de
seu trombone, do fundo do armário, acorda toda a casa e desperta Moacyr da
preguiça que lhe define em prol da felicidade do pai, ou as mais delicadas
lembranças de Vera mostrando o poder deste frágil sentimento chamado amor que
precisa ser cultivado periodicamente nos pequenos gestos e nas eternas memórias
para continuar vivendo e fazendo viver. Reinventá-lo a cada instante é desafio
apenas para os fortes. Quem se habilita?
“A
vida é um hino de amor”
Casemiro
de Abreu